Terapia Fonoaudiológica: Ao recebermos um bebê, ainda com poucos meses de vida, mas já com o diagnóstico de perda auditiva neuro sensorial bilateral, nos mais diferentes graus: leve, moderado, severo e profundo, recebemos na verdade a família desse bebê.
Todo o trabalho de intervenção fonoaudiológica, baseada na estimulação auditiva e de linguagem, será feito em parceria com essa família, isto é, a intervenção precoce, com o uso da amplificação sonora, terapia fonoaudiológica e todas as orientações serão realizadas, com e para a família.
O fonoaudiólogo deverá incentivar a criação do vínculo de trabalho, baseado na parceria e cumplicidade dos especialistas e da família, caso contrário pouco iremos alcançar de sucesso, se tivermos tão somente excelentes recursos tecnológicos de amplificação sonora e profissionais altamente capacitados.
O bebê é da família e será nesse núcleo familiar que, de fato, estará recebendo os cuidados, estimulação em todas as áreas, sendo educado e participando da cultura do núcleo familiar.
A intervenção e estimulação auditiva, com o uso do aparelho de amplificação sonora individual (AASI), deve acontecer o mais precoce possível, para que o impacto da perda auditiva sobre os ouvidos, não comprometa de maneira significativa e definitiva as vias auditivas centrais, isto é, o cérebro auditivo.
É da responsabilidade do fonoaudiólogo deixar muito claro que a perda auditiva diagnosticada, não é apenas um problema relacionado aos ouvidos, mas com todas a via auditiva, chegando nas áreas auditivas no cérebro.
Desta maneira, a proposta de terapia fonoaudiológica e o uso constante do AASI, visa favorecer o desenvolvimento de toda a via auditiva e garantir a estimulação das áreas auditivas corticais, isto é, áreas nobres no cérebro responsáveis por receber os estímulos sonoros e formar o cérebro auditivo.
Deve ficar muito evidenciado para a família, que o cérebro auditivo só será formado a partir de estímulos sonoros, verbais e não verbais e, consequentemente, as habilidades auditivas de fala e de linguagem, só poderão ser desenvolvidas plenamente em um cérebro auditivo.
Na sessão da terapia fonoaudiológica devemos garantir o melhor momento do dia para o bebê, sendo assim, o agendamento deverá ser no horário que o bebê não esteja habituado a dormir, não deverá estar com fome,etc. garantindo bons momentos para a interação e estimulação global e não só auditiva.
A família deverá ser orientada quanto a melhor maneira de estimular, sempre com o uso do AASI e observar as respostas aos estímulos, considerando que o bebê responderá para todos os estímulos apresentados: auditivos, visuais, olfativos e táteis, logo nem todas as respostas,necessariamente, serão para os sons. Toda a família deverá receber as informações para os cuidados, manipulação e manutenção dos aparelhos auditivos e moldes auriculares, garantindo o uso constante dos mesmos e efetiva estimulação auditiva.
Também deverá ser objetivo na terapia fonoaudiológica, mostrar para a família que apesar da perda auditiva não podem deixar de conversar naturalmente, cantar e estarem unidos emocionalmente. A perda auditiva não deve impossibilitar a interação do bebê com sua família e com sua cultura. Devem cantar músicas infantis para ninar, tentar acalmá-los com a voz, permitir que os irmãos participem da rotina e cuidados, logo a surdez não deve romper os laços afetivos ainda em formação.
O fonoaudiólogo deverá passar informações sobre marcos de desenvolvimento e o que devem esperar para cada idade e, no caso das respostas e habilidades auditivas, será avaliado como estará respondendo para quais estímulos e a intensidade dos mesmos.
Inicialmente, devemos garantir a estimulação auditiva, porém a meta será possibilitar condições reais de ouvir, isto é, ouvir todos os sons, nas diferentes frequências: graves, médias e agudas e nas várias intensidades: fraca, média e forte, pois a recepção do sons verbais, isto é, de fala precisa ser excelente e não apenas bom.
O acompanhamento fonoaudiológico, em terapia auditiva, acontecerá simultaneamente à investigação da perda auditiva e das respostas com o uso do AASI. Ao final de alguns meses, caso as respostas auditivas com os aparelhos auditivos não possam garantir, principalmente, níveis suficientes para a excelente recepção dos sons de fala, nos casos de perdas de grau severo-profundo, a família deverá ser orientada para a possibilidade do uso do implante coclear (IC), o qual poderá garantir melhor condição de escuta em todas as frequências e intensidades. Porém, para o uso do IC, existe a necessidade de procedimento cirúrgico, para a colocação do componente interno e que será acoplado um componente externo, o processador de fala.
Será a família que fará a opção, ou não, pelo uso do IC, sabendo que o trabalho de terapia fonoaudiológica, com a estimulação auditiva, de fala e linguagem deverá continuar, mesmo com o uso do IC.
Também na terapia fonoaudiológica auditiva verbal, o papel do profissional é de agente modificador, garantindo o desenvolvimento da estrutura auditiva cerebral, com o uso dos aparelhos auditivos e/ou implantes cocleares, orientações para favorecer a aquisição e desenvolvimento da fala e linguagem, porém é a família, bem orientada e comprometida, que é a chave do sucesso e o agente transformador da realidade e de todo processo de (re)habilitação.
Atualmente, nossos maiores aliados para o sucesso da terapia auditiva verbal são os avanços tecnológicos para o diagnóstico precoce, preciso e seguro, quanto ao tipo e grau de perda auditiva, somado a excelente qualidade dos dispositivos para a amplificação sonora, AASI e IC, sendo assim podemos com muita segurança realizar o diagnóstico e intervenção, mesmo nos casos de múltiplas deficiências. Porém nada substitui as relações interpessoais e a necessidade do trabalho humanizado e comprometido de todos os envolvidos: profissionais, familiares e, posteriormente, a escola.
Consideramos que o sucesso da (re) habilitação auditiva e do acompanhamento terapêutico, mesmo nos casos associados a outras deficiências, só poderá acontecer com a somatória das excelentes condições tecnológicas, profissionais capacitados e que buscam a excelência no atendimento e a participação efetiva da família. Nunca será possível eliminarmos as relações interpessoais e os vínculos para o sucesso do acompanhamento terapêutico.
Gostaríamos de esclarecer que também não existem fórmulas e receitas para terapia e atendimentos, as crianças não são iguais, assim como o desenvolvimento de cada uma terá suas particularidades e não devem ser comparadas com seus pares ouvintes e/ou com outras crianças com perda auditiva. Desta maneira, os atendimentos são individualizados e reavaliados periodicamente.
Nossa realização é poder trabalhar com a audição e com o desenvolvimento auditivo cerebral, algo encantador e poderoso.
“As informações aqui colocadas são de caráter informativo. Cada paciente possui suas particularidades e deve ser avaliado e tratado de forma individualizada. Se você tem algum problema de saúde, procure um médico especialista.”
Fga Ana Maria M. Oliveira
CRFª 2-4910