O senhor trabalha com interação com fonoaudiólogos?
Sim. Com muita frequência, recebo em meu consultório pacientes com quadros de surdez, tontura, zumbido nos ouvidos, rouquidão ou dificuldades escolares. São queixas comuns no consultório de qualquer otorrino, e são doenças a serem tratadas muitas vezes em equipe, com a interação entre o otorrino e a fonoaudióloga.
Em que momento essa interação ocorre?
No meu entendimento, a interação entre o médico e a fono ocorre em dois momentos: no diagnóstico e no tratamento.
No diagnóstico, normalmente é a fono que faz exames de medição da audição (audiometria), verificação da orelha média (timpanometria), avaliação da função do labirinto (otoneuro), avaliação de zumbido (acufenometria), teste da orelhinha (emissões otoacústicas), medição da audição em bebês (BERA e estado estável). É muito importante que exista uma sinergia entre os profissionais, pois a avaliação do médico antes do exame já prepara a fono para o que ela deve procurar nos exames. Muitas vezes, é necessária uma discussão multidisciplinar do caso para que se tenha um diagnóstico preciso.
O trabalho multidisciplinar no tratamento também é de extrema importância. Veja, uma criança pode estar indo mal na escola porque tem otite ou porque tem desordem do processamento auditivo, ou porque tem os dois. A troca de informações ajuda a fono a programar a terapia fonoaudiológica. Outros exemplos: um paciente com tonturas que não melhoram com medicação pode fazer uso de terapia de reabilitação vestibular com a fono, dependendo da origem da tontura. Um paciente com cisto de cordas vocais deve fazer terapia com a fono antes e depois da cirurgia para se ter o melhor resultado possível.
Em relação à adaptação de aparelhos auditivos, o senhor também interage com a equipe de fono?
Os exemplos que dei até agora são mais óbvios às pessoas, mas realmente interação entre otorrino e fono na adaptação de aparelhos auditivos é importantíssima e algumas pessoas podem não dar muito valor.
Veja, o uso de aparelhos auditivos está cada vez mais comum. Os aparelhos estão ficando melhores e mais tecnológicos, com qualidade de som beirando a perfeição. Inclusive, nós otorrinos estamos deixando de indicar algumas cirurgias de reconstrução de audição e indicando aparelhos que tem resultado similar e evitam o risco cirúrgico. Mas, devo dizer que o tratamento com aparelhos auditivos só funciona quando há uma boa adaptação fonoaudiológica. Já vi aqui no consultório pacientes que tinham aparelhos de marcas boas, com perdas planas e estáveis, mas que não se adaptaram aos aparelhos devido à forma como foi feita a adaptação pela fono e a má orientação feita pelo otorrino.
A programação do aparelho é como a afinação de um instrumento musical, tem que ser bem-feita senão o som não fica agradável. Não é uma simples aplicação de uma forma matemática, é preciso conhecimento e experiência. Já o otorrino deve saber orientar o paciente e trabalhar suas expectativas. Aparelhos intracanais não servem para qualquer tipo de perda. Moldes fechados podem causar desconforto pela sensação de oclusão. Ouvidos úmidos necessitam de moldes ventilados.
Penso que a interação multidisciplinar é imprescindível para o melhor tratamento.
Dr Henrique Gobbo é formado em medicina na Pontifícia Universidade de Campinas, realizou residência médica com a equipe Otorhinus em São Paulo. Foi preceptor de cirurgia de ouvido na equipe Otorhinus e no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. Frequentou a equipe de implantes cocleares da Santa Casa de São Paulo. Fez especialização internacional com o Dr. Blake Papsin, de Toronto.
Dr Henrique Gobbo
(CRM-SP 117688)